Tânia Monteiro e Patricia Campos Mello
Presidente brasileiro elogia colega e se mostra otimista com possibilidade de acordo para destravar Rodada Doha
Nova York - Durante o encontro de uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pela primeira vez, afirmou que está disposto a flexibilizar as negociações da Rodada Doha, principalmente na redução dos subsídios agrícolas. Não disse, no entanto, para quanto os subsídios em seu país seriam reduzidos. “Eu garanti ao presidente que os Estados Unidos mostrarão flexibilidade, particularmente na questão de produtos agrícolas para ajudar a chegar a um resultado”, disse Bush, em declaração à imprensa após o encontro. Lula comemorou a sinalização de Bush, mas destacou que há ainda muitas barreiras a serem vencidas e, para se fechar um acordo, é necessário o apoio de inúmeros países. “O Brasil quer fazer o que for necessário para fazer um acordo, se nós conseguirmos convencer a China, a Índia, a África do Sul, o México, a União Européia e o Japão. Se isso acontecer, poderemos chegar a um resultado.”Apesar das ressalvas, Lula mostrou-se otimista e chegou a dizer que espera para “os próximos dias” a possibilidade de se chegar a um acordo. “O que estamos demonstrando é que o problema existe, ninguém tem a solução definitiva, que todo somos aprendizes de como lidar com este tema e todos queremos fazer a lição de casa. A demonstração de vontade política do presidente Bush e a minha é um sinal de que ninguém é o dono da verdade. Todo mundo sabe um pouco e não sabe nada.”Lula também falou da “disposição” de Bush de ceder em questões relacionadas ao clima. “Todos nós temos responsabilidade. Acho que não se trata de ficar procurando quem é culpado, já que todos precisam cuidar porque, se nós não cuidarmos do planeta Terra, todos nós perdemos.” O Brasil, afirmou, está fazendo a sua parte, ao combater o desmatamento da Amazônia.TROCAO ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, detalhou as negociações dos dois presidentes. Bush, revelou ele, se comprometeu a seguir as recomendações da OMC para redução de subsídios agrícolas. Em troca, pediu que o Brasil demonstrasse “flexibilidade “ na abertura de seu mercado para importação de produtos industriais. “A oferta americana é o suficiente para nós nos reengajarmos profundamente na negociação”, resumiu Amorim.Na semana passada, a delegação americana em Genebra sinalizou que poderia aceitar a redução de subsídios agrícolas para a faixa de US$ 13 bilhões a US$ 16,4 bilhões, como sugerido pela OMC. No encontro com Lula, Bush deu respaldo oficial ao negociadores americanos. Hoje, Amorim se reúne mais uma vez com Susan Schwab, representante de comercio dos Estados Unidos, e deve definir melhor a proposta. No ano passado, os EUA distribuíram US$ 12 bilhões em subsídios. Doha foi o principal tema do encontro dos presidentes, que durou quase uma hora, mas os chefes de Estado também discutiram mudança climática e etanol. Segundo Amorim, Bush agradeceu a Lula sua liderança na área e a cooperação para produção de etanol em países da América Central. Questionado se o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, foi tópico da conversa, o ministro gaguejou e depois desconversou. “Eu diria que não”, disse, para depois completar. “Só indiretamente. O presidente Bush afirmou que o Brasil é o grande fator de estabilidade da América Latina.”Lula se encontrou ontem com representantes de vários países. Com a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, também tratou da Rodada Doha.
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